Na semana passada, enquanto os catarinenses acompanhavam atônitos e constrangidos o noticiário sobre o desastre ambiental no balneário de Canasvieiras, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançava um estudo sobre o saneamento no Brasil. Os dados são igualmente vexaminosos.
Com o ritmo atual de investimentos, o Brasil levará mais quatro décadas para universalizar os serviços de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgoto. Apenas 39% do esgoto é atualmente tratado no País. Em Santa Catarina, não chegamos a 20%, segundo o Instituto Trata Brasil. É menos, inclusive, que a média dos Estados do Nordeste (29%). Outro dado estarrecedor: mais de um terço da água que é tratada se perde, um desperdício que resulta em menos investimento para dar destino adequado ao esgoto.
Os principais entraves, segundo a CNI, são o excesso de burocracia, a falta de eficiência na aplicação de recursos e os problemas de gestão, o que eleva custos e onera o preço dos serviços. Em plena segunda década do século XXI, a situação do saneamento no País passou do limite. Transbordou. O episódio de Canasvieiras e o dramático diagnóstico nacional deixam claro que, por décadas, o setor público enterrou o assunto entre suas últimas prioridades.
São necessários R$ 275 bilhões para a universalização no País dos serviços de abastecimento de água e coleta de esgoto, o que reduziria as despesas com o tratamento de doenças, uma vez que cada R$ 1 investido em saneamento representa uma economia de R$ 4 com saúde. Seria assegurada, também, a viabilidade das atividades ligadas ao turismo e a movimentação da economia.
Já passou da hora de enfrentarmos essa situação. E sem paliativos. A paralisia do Estado brasileiro, que não consegue investir em obras essenciais, revela que o setor privado precisa ser atraído para os investimentos em infraestrutura. Com regras claras e que não mudem do dia para a noite, além de agências reguladoras fortes e independentes, é possível transformar o calamitoso quadro atual numa oportunidade. Inclusive para a retomada do crescimento.
Confira artigo do presidente da FIESC, Glauco José Côrte, publicado nos jornais Diário Catarinense, A Notícia e Jornal de Santa Catarina nesta quarta-feira, dia 20 de janeiro