O papel do sistema financeiro é fundamental no sentido de complementar os recursos de quem deseja consumir ou investir. São os investimentos que podem fazer retornar boa parte dos 12 milhões de empregos que foram perdidos com a crise econômica, período em que o mercado financeiro se retrai e tenta se preservar para não sofrer as consequências da inadimplência. O juro sobe, principalmente, pela recorrência de demanda financeira por parte do governo, que não controla seus gastos.
O efeito do juro alto é devastador. As empresas têm dificuldades de honrar compromissos, as famílias reduzem o consumo com medo do desemprego e o governo não consegue gerar caixa para pagar os compromissos de seus exorbitantes empréstimos, fruto da sua irresponsabilidade fiscal. Por que a taxa de juro não cai mais rapidamente? Porque o mercado cobra o que julga ser razoável.
Porém, é preciso decompor a taxa de juro para que se possa avaliar se a mesma pode ser revista. A taxa de juro básica, a SELIC, incorpora a expectativa inflacionária, o risco do país e o risco cambial. Acontece que o spread, ou seja, o lucro bancário, cobrado pelo sistema financeiro nacional, está muito além do que se aplica em outros países. Estudo da CNI revela que o spread no Brasil é de 23% contra 6% na média mundial. Para as pessoas físicas, o spread é ainda mais elevado e ultrapassa 30%. O mesmo estudo mostra que o spread representa 71% das taxas cobradas nos empréstimos.
Para o juro cair na velocidade que se deseja, a inflação precisa recuar, a fim de que o risco país e o cambial se ajustem em patamares inferiores. É um processo gradual, que depende da recuperação da credibilidade governamental. O governo tem que parar de gastar além do que arrecada.
Assim, a aprovação da PEC dos gastos públicos é uma sinalização que tende a promover a redução do custo do juro, da mesma forma que as reformas estruturantes são indispensáveis para o juro cair ainda mais. A recente redução do juro em 0,25 ponto percentual, que fixou a SELIC em 14% ao ano, já era esperada. Ainda assim, o Brasil segue na liderança do ranking mundial do juro real. Estamos longe de ter uma taxa que estimule o consumo e os investimentos, fundamentais para recuperação da atividade econômica e para recuperação dos empregos perdidos.
É impossível para a economia continuar com um sistema em que o capital de terceiros, em lugar de ter seu papel fomentador, acaba sendo devastador de empresas e empregos. Atualmente, aplicar em títulos do governo propicia rentabilidade maior do que investir no próprio negócio. Trata-se de uma inversão de valores perigosa, irreal e insustentável, situação que tem que ser urgentemente eliminada.
Confira artigo do presidente da FIESC, Glauco José Côrte, publicado no jornal Notícias do Dia nas cidades de Florianópolis e Joinville nesta segunda-feira (31)