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Não é bem uma novidade

A necessidade de fazer diferente é um motor do desenvolvimento desde a revolução industrial, e está no DNA de empresas de mais de 70 anos como a Tupy e a Tigre.

Não é de hoje que inovação faz a diferença para o sucesso de empresas e o desenvolvimento econômico. O economista austríaco Joseph Schumpeter observou isso há mais de 100 anos, quando postulou sua teoria da “destruição criativa”. Ela determina o papel central de empreendedores e inventores: as inovações que eles produzem convivem por um tempo ao lado do velho, até que ocupam seu lugar. O processo deixa mortos e feridos para trás, mas impulsiona o progresso, desde o advento da Revolução Industrial. Essa dinâmica é uma chave de compreensão para a industrialização e o desenvolvimento de Santa Catarina.


Indústrias que se viabilizaram por meio de inovações na primeira metade do século 20 cresceram e proporcionaram o surgimento de ecossistemas de clientes e fornecedores em seu entorno, o que deu ainda mais consistência ao tecido industrial. Muitas dessas indústrias estão aí até hoje, mais fortes do que nunca, graças a nunca terem perdido a mão na busca por inovações. Tupy e Tigre, de Joinville, estão entre elas.


A inovação geradora da Tupy foi o desenvolvimento do ferro maleável nos anos 1930 – até então este tipo de produto só chegava ao Brasil importado da Europa, sendo bastante restrito. Os fundadores da empresa passaram seis anos na boca do forno para chegar à formulação exata, lançando as primeiras conexões hidráulicas em 1938. No ano seguinte começou a 2ª Guerra Mundial e o fornecimento europeu cessou, escancarando o mercado brasileiro para a Tupy, que depois se voltou à produção de autopeças para a nascente indústria automobilística nacional. Para suprir a carência de pessoal especializado criou, em 1959, a Escola Técnica Tupy, que se tornaria referência nacional em capacitação para a cadeia automotiva.


Em fins do século 20 o desenvolvimento de outra inovação foi definidor dos rumos da companhia: o ferro vermicular, também chamado de CGI, sigla do inglês Compacted Graphite Iron. A liga metálica passou a ser usada pela primeira vez na fabricação de blocos de motores em escala industrial em 2001. “A inovação permitiu a nossos clientes produzirem motores mais leves e resistentes, com redução de emissões e maior eficiência na utilização de combustíveis”, afirma Fernando de Rizzo, presidente da Tupy.


Referência mundial em metalurgia, a empresa produz componentes em ferro fundido de elevada complexidade geométrica e metalúrgica para os setores de transporte de carga, infraestrutura, agricultura e geração de energia. É a maior exportadora brasileira de autopeças, destinando 82% da produção a mais de 40 países. “Nos últimos anos houve grande evolução nos motores utilizados no setor de bens de capital, e a Tupy tem contribuído de forma substancial para este desenvolvimento”, ressalta De Rizzo.


Para ocupar esse espaço a companhia tem que funcionar como uma usina de inovações, e está organizada para isso. Atua de forma integrada com os times de engenharia de seus clientes por meio do codesenvolvimento de produtos. Além disso, conta com time próprio de P&D e mantém parcerias com universidades e institutos de pesquisa no Brasil e exterior. Há mais de 20 anos mantém o Programa Criação, que rende milhares de ideias originadas dos funcionários todos os anos. Já o Comitê de Estratégia e Inovação é formado por executivos e convidados externos. “A ideia é estimular, inicialmente, a divergência de ideias para que sempre estejamos abertos a questionamentos e novas oportunidades, sem nos acomodarmos”, diz o presidente.


A busca por mais eficiência em processos produtivos, que envolve soluções no conceito da indústria 4.0, como a aplicação de modelos matemáticos de otimização, está conectando a Tupy a startups e outras empresas de base tecnológica. Dentre as soluções perseguidas está uma maneira de produzir peças para motores com menor quantidade de metal, tornando-as mais leves e resistentes. A importância de uma indústria do porte da Tupy (R$ 4,8 bilhões de faturamento em 2018) e com seu grau de inserção internacional para o desenvolvimento do ecossistema do Estado pode ser medida pelo fato de que 52% de seus fornecedores são de Santa Catarina.


Se a Tupy revolucionou o mercado com conexões hidráulicas feitas de ferro maleável, a Tigre, fundada nos anos 1940, provocou outra revolução com a introdução do plástico neste mesmo segmento, a partir dos anos 1950. “Foi uma iniciativa inovadora do seu fundador, João Hansen Jr., que introduziu o PVC na construção brasileira, em substituição aos tubos de ferro galvanizados. Desde então, a inovação é um dos pilares de desenvolvimento da empresa e grande diferencial competitivo”, afirma Rafael Salomão, gerente de inovação e sustentabilidade.


Além de desenvolver projetos conjuntos com universidades e centros de pesquisa, como o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), a empresa tem potencializado processos de captação de ideias e sugestões de colaboradores. “Também desenvolvemos vários canais de comunicação permanente com startups, acelerando o desenvolvimento de produtos e serviços que tenham sinergia com nossa cadeia de negócios”, diz Salomão.

 

Mentoria | A Tigre é uma das indústrias de grande porte que ocupam o espaço LinkLab, da Acate, inaugurado recentemente em Joinville, com o objetivo de se conectar a startups e a todo o ecossistema de inovação catarinense (leia a matéria principal). Também neste ano a Tigre lançou o Programa de Mentoria em parceria com o Parque de Inovação Tecnológica de Joinville e Região (Inovaparq), localizado na Univille. A ideia é auxiliar empresas incubadas no local a desenvolver negócios, corrigir rotas e incrementar o networking. As startups selecionadas têm direito a suporte de um executivo da Tigre por quatro meses.


Muitas novidades são geradas a partir de interações como essas e dos departamentos próprios de inovação e P&D: o ritmo é de 500 novos produtos lançados anualmente, em média, em um portfólio total de 15 mil produtos. O acabamento universal, lançado recentemente, é uma delas. Trata-se de um registro de chuveiro que se encaixa nos diferentes modelos de acabamento existentes, evitando a necessidade de se quebrar a parede para trocar o registro. Numa outra frente, a Tigre desenvolveu um aplicativo de apoio ao trabalho de projetistas e engenheiros que permite integrar todos os projetos de uma obra e armazenar toda a documentação em um único local, dentre outras funcionalidades.


Líder brasileira na fabricação de plásticos para materiais de construção, a Tigre também lança mão da inovação para aprofundar seu processo de internacionalização – a empresa fornece para 40 países e possui 13 unidades industriais no exterior, além de 11 no Brasil. Cada país, da mesma forma que o Brasil, tem peculiaridades culturais e de sistemas produtivos que demandam produtos e serviços calibrados de acordo com eles, exigindo um fluxo constante de novas soluções.

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