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Juros estão bizarramente altos no Brasil, diz Roberto Padovani

Por isso, para o economista-chefe do Banco Votorantim, piora no cenário externo não deverá afetar queda da taxa de juros brasileira e o desempenho da economia; SC é mais resiliente, tem vantagens em relação aos demais estados e deverá ser menos afetada por economia mundial estagnada

Florianópolis, 19.04.2024 - O economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, disse nesta sexta-feira (19) na reunião de diretoria da Federação das Indústrias de SC (FIESC), que os juros no Brasil estão “bizarramente altos”. Segundo ele, com o atual nível de inflação, não faz sentido ter um juro real tão elevado e existe amplo espaço para corte. Na avaliação do economista, o crescimento da renda brasileira acima da inflação é positivo no curto prazo e traz impacto positivo sobre a concessão de crédito, com queda na inadimplência. “Se temos renda indo bem, crédito indo bem, isso aumenta a confiança do empresário e do consumidor”, explica.

Em sua apresentação sobre o cenário e as perspectivas para economia em 2024 e 2025, Padovani destacou que, a despeito de um cenário externo “absurdamente ruim”, a economia brasileira está mais resiliente. Ele destacou como fatores positivos as reformas feitas pelos governos anteriores e também uma “mudança de patamar” do agronegócio brasileiro,  que tem ganhado relevância no cenário internacional. “O Brasil se tornou um produtor global relevante pós-pandemia. Mesmo com a perspectiva de redução da safra em relação a 2024, teremos um ano muito bom”, explicou.

Padovani destacou ainda o fortalecimento do Brasil no comércio internacional, reflexo da reorganização das cadeias globais de suprimentos e dos investimentos que o agronegócio e as indústrias vinculadas a ele fizeram nos últimos anos. “Nossa corrente de comércio passou a 30% do PIB no período pós-pandemia. Isso é muito bom, um recorde”.  Além do agronegócio como motor do comércio exterior, Padovani destacou o papel da exploração de petróleo no pré-sal, o que torna o país menos dependente de preços globais.

Economia catarinense: cenário e perspectivas

Apesar de ser um estado em que o agronegócio tem papel relevante, ligado à cadeia industrial de alimentos, Santa Catarina deverá ser menos afetada pelos reflexos decorrentes da redução de preços das commodities. “Santa Catarina tem um setor industrial forte e diversificado, muito resiliente. O resultado disso é uma cultura empresarial impressionante, diferente dos demais estados. Isso chama a atenção e a FIESC é exemplo dessa liderança”, salientou. 

Na avaliação do economista, outro fator que diferencia Santa Catarina é a organização do setor público, que, combinada com essa conexão do agronegócio com indústria e diversificação do setor, reflete em baixo desemprego, maior renda, além de inadimplência e risco de crédito baixos. “Isso cria um círculo virtuoso que cria um movimento de consumo regional interessante”, explicou. O consumo das famílias catarinenses é a aposta de Padovani para minimizar eventuais efeitos do cenário internacional desafiador. 

Padovani afirmou ainda que o setor varejista deve se acelerar, ganhar tração no segundo semestre deste e o movimento fica mais claro em 2025 no estado. “As condições de consumo são muito boas em Santa Catarina e os setores ligados ao crédito vão segurar a economia, como o imobiliário, de construção, veículos e bens de capital”, informou. Ele destacou, no entanto, que desafios como a escassez de mão-de-obra e deficiências na infraestrutura precisam ser atacados.  

Cenário externo

As recentes tensões internacionais e seus impactos sobre preços internacionais, notadamente do petróleo, estão entre as preocupações do economista em relação às principais economias do mundo, como a europeia, norte-americana e chinesa. 
Os efeitos da alta do petróleo sobre a inflação dos Estados Unidos trazem uma expectativa muito negativa dos mercados.

De acordo com ele, a inflação norte-americana está resistente em decorrência do mercado de trabalho. "Mesmo se tirar o efeito petróleo da inflação, ainda está acima da meta de 2%. A taxa de desemprego é uma das menores em 70 anos. É uma situação de pleno emprego, com o setor de serviços muito aquecido, pois tem muita gente consumindo. Isso posterga a redução de juros por lá e causa turbulência nos mercados financeiros. A manutenção do juro alto nos EUA trava crédito, consumo e mantém preços, mas desacelera a economia”.  A redução do fôlego das economias na Ásia e Europa afeta os países emergentes, com menos ingresso ou até mesmo saída de capitais, pressionando o câmbio.

Contratando problemas

Um dos principais alertas do economista do banco Votorantim foi a tendência de aumento do gasto público. Padovani destacou que, em ano eleitoral, é esperado um aumento na liberação de recursos. “Estamos contratando uma crise para daqui a alguns anos com aumento do gasto público. Vai dar errado, mas não em 2024 e 2025. O arcabouço fiscal hoje não conversa com os gastos da previdência, com o aumento do salário mínimo, com os mínimos constitucionais”, salientou. 

O PIB brasileiro 2024 vai crescer menos, mas terá um crescimento mais homogêneo, o que é positivo na opinião do economista. “Um PIB mais fraco em 2024 dá uma falsa impressão negativa. Hoje, está muito atrelado a agro e petróleo, o que cria uma disparidade”, disse.

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