Florianópolis, 01.11.2024 - Após 52 anos desativada, a histórica Usina Hidrelétrica Maruim, em São José, voltou a gerar energia na semana passada. A estrutura passou por uma ampla reforma, ao custo de R$ 9 milhões, que a habilitou a fornecer 1 MW, o suficiente para abastecer cerca de duas mil residências.
A usina foi construída no início do século XX para abastecer o centro da capital do Estado, na Ilha de Santa Catarina, através de cabos de energia submarinos. Entre os objetivos específicos, estavam o abastecimento dos prédios públicos e a iluminação das ruas, que na época era feita não mais com a queima de óleo de baleia, mas sim de querosene.
A obra foi feita a pedido do governador Gustavo Richard, que contratou o engenheiro argentino Miguel Vila Real Vela e a empresa Simmonds & Saldanha. Os equipamentos para a construção foram trazidos da Inglaterra.
Na mesma época, esta empresa esteve envolvida nas construções do primeiro sistema de abastecimento de água em Florianópolis e da Usina Hidrelétrica Piraí, em Joinville, inaugurada dois anos antes.
A obra em São José ficou pronta em 1910, 16 anos antes da inauguração da Ponte Hercílio Luz. Seu nome inicial era Usina de Geração de Energia Gustavo Richard.
O período de operação
Com 620 kW de capacidade inicial, a Usina Maruim contava com três geradores, o que permitia não apenas o abastecimento do centro da Capital como também das cidades de São José e Biguaçu.
Na década de 1950, com o aumento da demanda, a recém criada Celesc buscou outras fontes de energia para a ilha, deixando a Usina Maruim responsável pelo abastecimento da região continental. Na década seguinte, as inaugurações da Usina Hidrelétrica Garcia, em Angelina - com capacidade para 9,6 MW - e do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo - com capacidade inicial de 50 MW - a Usina Maruim foi perdendo relevância no abastecimento da região.
Em 1972, foi desativada pela Celesc, ficando sem operação desde então.
Os anos de fechamento
Em 2005, a estrutura foi tombada como Patrimônio Histórico do Município de São José. Em sua fundamentação, o decreto 18.707 destaca que “o entorno do complexo é de uma riqueza grandiosa, visto que a natureza emoldura as construções, dando ares de paisagem rural, ambiência perfeita para a criação de um espaço de memória”.
Mesmo com a atuação de zeladores, o prédio sentiu as décadas sem operação. Em 2014, o blog Santa Catarina Antiga visitou o local e constatou “vidros quebrados, tijolos cobertos de limo, infiltração, furos no telhado, e discretas rachaduras. No seu interior ainda se encontra uma das três turbinas originais”.
A restauração
As reformas para reativação começaram em 2023, com a substituição do sistema de três turbinas por um de duas. Essa mudança exigiu a troca dos tubos adutores e um trabalho de adaptação para que as novas turbinas se adequassem à fundação do prédio original, que além de protegida pelo tombamento estava em excelente estado.
O novo sistema, apesar de ter um princípio de funcionamento muito semelhante ao original, tem maior tecnologia de controle agregada, permitindo um melhor aproveitamento do potencial. Cálculos da Celesc indicam que, ao longo dos ciclos anuais de seca e chuvas, a potência efetivamente fornecida pela usina fique em torno de 65% da capacidade instalada.
A arquitetura do prédio também foi mantida, com a substituição do telhado e reparo dos vitrais com peças novas, mas com as mesmas características estéticas da construção original. Na parte externa, uma das turbinas originais foi instalada para exposição, com a devida autorização da prefeitura de São José, uma vez que o tombamento envolve todo o terreno.
A retomada da operação
Uma cerimônia no último dia 26 marcou o fim das obras. Além da presença de autoridades, o evento contou com atividades culturais, visitas guiadas, exposição histórica, feira de artesanato e atrações do projeto “Celesc nas Escolas”.
Agora, a usina entra em um período de testes operacionais, para verificar a segurança e o efetivo funcionamento de todos os equipamentos. A previsão é que em aproximadamente um mês a Celesc obtenha autorização da Aneel para operação comercial.
Por envolver a produção de energia, a usina não é aberta para livre visitação do público. Porém, a Celesc está preparando um formulário em seu site para que grupos possam solicitar visitas guiadas não só à Usina Maruim, mas também em outras unidades pelo estado, como a também histórica Piraí, de Joinville.
Outras usinas históricas no foco
A restauração do Maruim integra um plano maior da Celesc, de reativação e modernização de seu parque de geração pelo estado. O objetivo é aumentar a produção com menor custo ambiental, já que o impacto das construções de reservatórios e outras estruturas já foi diluído ao longo dos anos de operação.
“Nós temos dois grandes projetos vindo pela frente, que envolvem a ampliação de usinas existentes”, revela Estela Christina Muller, gerente de Engenharia e Projetos da Celesc Geração. Ela se refere às também históricas usinas Caveiras, de Lages, e Salto, em Blumenau.
A hidrelétrica de Lages foi inaugurada em 1940 e, com a ampliação, deve passar de 3,83 MW para 9,4 MW. Já a de Blumenau começou a operar em 1914 e terá capacidade ampliada de 6,28 MW para 9,4 MW. Ambas estão em operação desde que foram inauguradas.
Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina - FIESC
Gerência de Comunicação Institucional e Relações Públicas
Quer ficar por dentro das principais notícias sobre economia e negócios em Santa Catarina, no Brasil e no mundo? Assine a newsletter Indústria News e tenha acesso todos os dias a melhor curadoria de conteúdo econômico, além de notícias exclusivas sobre a indústria catarinense. Você escolhe como receber: direto no seu e-mail, no WhatsApp, ou no LinkedIn. Assine. https://fiesc.com.br/news