Enquanto setores como o nuclear, aeroespacial e bioquímico avançam com tecnologias de ponta, a tecnologia quântica desponta como uma das áreas mais promissoras — e intrigantes — da atualidade. Envolta em mistério, complexidade e potencial ainda não totalmente desvendado, ela pode protagonizar uma nova revolução científica e industrial, com impactos profundos em diversas esferas da sociedade, inclusive na segurança global.
A tecnologia quântica
Essa tecnologia permite manipular partículas em níveis subatômicos, possibilitando avanços revolucionários em computação, comunicações e sensoriamento. No campo civil, isso se traduz em supercomputadores capazes de resolver problemas até então impossíveis, como a simulação precisa de moléculas complexas para o desenvolvimento de novos medicamentos ou materiais. Já no contexto militar, abre caminho para comunicações praticamente invioláveis, sistemas logísticos otimizados e sensoriamento de altíssima precisão, capaz de detectar submarinos ou objetos escondidos com muito mais eficiência do que os sistemas atuais.
Ao trabalhar com uma partícula é possível usar as propriedades quânticas de superposição, que uma partícula pode estar ao mesmo tempo em múltiplos estados; emaranhamento, as partículas permanecem conectadas mesmo distantes e o teorema da não clonagem, que diz que um estado quântico desconhecido não pode ser copiado exatamente.
Alguns exemplos concretos já estão em curso: a IBM e o Google vêm disputando a liderança na criação de computadores quânticos capazes de superar os supercomputadores tradicionais em velocidade e capacidade de processamento; a Boeing pesquisa o uso de sensores quânticos para melhorar a navegação de aeronaves em ambientes sem GPS; e empresas como a QuTech, na Holanda, estão desenvolvendo redes de comunicação quântica que prometem ser 100% seguras contra espionagem.
Dado os benefícios estratégicos que a quântica pode gerar, governos no mundo todo estão investindo pesadamente em pesquisa e desenvolvimento quântico, aqueles que primeiro conseguirem dominar essa tecnologia serão potencias militares, acendendo o alerta de que todos deveriam estar assegurando seu lugar no mundo quântico.
Investimentos recentes
Um levantamento da Qureca estimou que os investimentos mundiais em pesquisa e desenvolvimento quântico chegou a US$ 44,5 bilhões, o maior aporte de investimentos está na China com US$ 15 bilhões, seguido dos EUA (US$ 7,7b), Reino Unido (US$ 4,3b), Alemanha (US$ 3,3b), Coreia do Sul (US$ 2,3b), França (US$ 2,2b), Canadá (US$ 1,9b), Rússia (US$ 1,1b), União Europeia (US$ 1,1b), e Holanda (US$ 1b).
No Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) investiu um aporte inicial de US$ 12 milhões (cerca de R$ 60 milhões) para a criação do Centro de Competência em Tecnologias Quânticas que irá desenvolver computação quântica. O Centro, chamado de QuIIN (Centro de Competência EMBRAPII CIMATEC em Tecnologias Quânticas), inaugurou em outubro de 2024, o laboratório CIMATEC QUANTUM. O novo centro de pesquisa, é fruto da parceria entre o SENAI CIMATEC, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a EMBRAPII.
O setor privado também está em movimento. Empresas como Amazon, Atos, IBM, Google e Boeing já investem em soluções quânticas, disputando uma corrida tecnológica que pode redefinir a liderança em inovação nos próximos anos.
A tecnologia quântica não é apenas o futuro — ela já começou a moldar o presente. Seja no avanço de pesquisas civis ou no impacto geopolítico, trata-se de uma corrida em curso que exige atenção, investimento e preparo. Santa Catarina e o Brasil precisam estar entre os protagonistas dessa transformação para garantir soberania tecnológica e competitividade global.
Quer entender mais sobre o impacto da tecnologia quântica na defesa e na sociedade? Leia a publicação do SIPRI (em inglês): An introduction to military quantum technology for policymakers.
