Os custos com a saúde dos trabalhadores preocupam crescentemente as empresas brasileiras. O valor dos planos de saúde já representa 11% da folha de pagamento (o segundo maior custo, após a própria folha) e a inflação do setor, que tem sido crescente, poderá chegar a 18% neste ano. Os gastos das empresas brasileiras com a saúde dos trabalhadores somaram US$ 23,7 bilhões entre 2010 e 2014, de acordo com dados do Departamento Nacional do Sesi. Os números são expressivos, mas não dizem tudo. Poucos sabem que esses dispêndios mais visíveis representam apenas 30% dos custos totais de uma empresa com a saúde – ou com a falta de saúde – de seus trabalhadores. Os 70% restantes têm origem na baixa produtividade (fenômeno conhecido por “presenteísmo”) e nas faltas ao trabalho (absenteísmo), causadas na maioria das vezes por doenças crônicas como obesidade, hipertensão, diabetes e doenças músculo esqueléticas, além de patologias mentais e emocionais, como depressão, ansiedade e stress. É o que demonstram estudos internacionais compilados pela consultora americana HealthNext.
A correlação entre doenças e custos é duplamente evidente. Trabalhadores doentes produzem menos do que os saudáveis e o seu tratamento custa cada vez mais caro. Porém, a relação inversa também é válida. De acordo com a HealthNext, para cada mil dólares que as empresas deixam de gastar com médicos e remédios em razão da melhoria da saúde de seus trabalhadores, a produção aumenta em dois mil dólares. A boa saúde é, portanto, um impressionante meio para o aumento da competitividade.
A partir dessas constatações cresce em todo o mundo o interesse pelo investimento na melhoria dos ambientes de trabalho. Nesse novo contexto, o foco não é mais o tratamento do trabalhador doente, mas o investimento no trabalhador saudável. O objetivo é ajudá-lo a manter-se com saúde por muito mais tempo e, portanto, mais feliz, produtivo e comprometido com os objetivos da empresa. Estudos demonstram que o maior comprometimento é também uma característica de trabalhadores que desfrutam de boa condição de bem-estar.
Não só as empresas ganham. Trabalhadores que mudam hábitos alimentares, praticam exercícios e deixam de fumar elevam substancialmente a sua própria qualidade de vida. Assim, garantir o envelhecimento saudável da população é essencial ao futuro dos países. O aumento da longevidade é uma excelente notícia, mas implica mais gente aposentada sendo sustentada, ao longo de um maior número de anos, por menos gente em atividade, o que empurra o sistema previdenciário para a falência. Segundo Robert J. Shapiro, principal conselheiro econômico de Bill Clinton e autor do livro “A previsão do futuro” (2010), “todas as crises de assistência médica que a maioria dos países enfrenta envolvem as combinações de número de pessoas idosas em rápido crescimento e os custos das tecnologias médicas usadas para tratá-las igualmente crescendo com rapidez”. A solução lógica será estender o tempo de trabalho e investir no combate às doenças crônicas que incapacitam os mais idosos.
Apesar de todas as evidências que comprovam os benefícios de ambientes de trabalho saudáveis, ainda é pequena a disseminação dessa cultura entre as empresas brasileiras. Não é fácil incorporar essa agenda, pois trata-se de uma inversão cultural cuja promoção depende do setor produtivo. A visão tradicional considera o trabalho uma fonte de doenças em função do esforço físico e do stress a que são submetidos os trabalhadores. Mas muitas empresas já estão provando que o trabalho pode ser exatamente o oposto: um vetor para a promoção do bem-estar. São empresas que posicionaram a saúde como componente estratégico da gestão e que contam com o engajamento de suas lideranças em todos os níveis.
Por meio da boa gestão das informações da saúde dos trabalhadores, essas empresas conseguem identificar os grupos expostos a riscos e, assim, direcionar ações com grande efetividade. Com programas bem elaborados de prevenção de doenças e de promoção do bem-estar as empresas conseguem a adesão do seu pessoal e obtêm excelentes resultados. Em algumas empresas, a soma das reduções de circunferência abdominal dos trabalhadores mede-se em dezenas de metros, e a perda de peso em toneladas. A boa alimentação e a prática de exercícios reduzem o risco cardíaco e o desenvolvimento de doenças crônicas, com consequências na queda do absenteísmo e no aumento da produtividade. O ataque aos fatores causadores de stress e ansiedade obtém resultados semelhantes.
Além de melhorar o desempenho do trabalho, as ações levam à redução de custos com assistência médica e encargos previdenciários. O Fator Acidentário Previdenciário (FAP), por exemplo, é calculado com base na quantidade de licenças médicas e aposentadorias causadas por motivo de saúde. A alta freqüência dessas ocorrências pode dobrar o valor a ser pago por uma empresa em seguros de acidentes de trabalho. Há situações em que o seguro pode equivaler a 6% da folha de pagamento.
Casos reais e estudos apresentados no 3° Global Healthy Workplace Awards & Summit, um dos mais importantes eventos mundiais sobre bem-estar no trabalho, recentemente realizado em Florianópolis (SC), com a presença de especialistas de mais de 40 países, quantificam os resultados obtidos em programas eficientes de bem-estar. Para cada dólar investido obtém-se uma média de seis dólares de retorno. Isso sem contar que uma eficiente política de bem-estar organizacional é uma excelente forma de atrair e reter talentos. Eis uma agenda que, em função de seu alcance social e econômico, não pode mais ser ignorada pelas empresas brasileiras.
Confira artigo do presidente da FIESC, Glauco José Côrte, publicado no jornal Valor Econômico nesta quinta-feira (9)