Em 1989, aos 20 anos, Sidney Ogochi era um jovem cheio de planos. Nascido em Wenceslau Braz (PR) e criado em Campo Grande (MS), neto de imigrantes japoneses tanto por parte de pai quanto de mãe, terceiro de quatro filhos, ele vendeu a moto comprada com as economias de quem trabalhava desde os 14 anos como balconista e caixa de lojas para iniciar o próprio empreendimento na área de confecções. “E tinha que ser em Santa Catarina, por tudo o que o Estado representava neste setor”, lembra. A ideia original era se instalar em Blumenau ou Brusque, principais centros da indústria têxtil, mas o rapaz se assustou ao perceber que, nestas cidades, os investimentos necessários seriam altos demais para quem estava começando. Durante uma viagem pelo Oeste do Estado, ele parou em São Carlos com a intenção inicial de apenas passar a noite.
Conversou com algumas pessoas, falou sobre seus planos e, quando se deu conta, estava sendo levado para conhecer o prefeito – que, interessado em fomentar a economia local, o convidou a montar ali seu empreendimento, oferecendo como incentivo uma pequena sala e uma linha telefônica. Ogochi aceitou a oferta e começou com duas funcionárias que operavam máquinas de costura.
Hoje, a Ogochi Menswear, especializada em moda masculina, emprega 1,1 mil pessoas. No ano passado, produziu mais de 4,7 milhões de peças. Contrariando a tendência de terceirização do setor, 90% da produção é interna, o que permite um maior controle dos processos e da qualidade. São sete unidades fabris, localizadas em São Carlos, Águas de Chapecó, Planalto Alegre e Caxambu do Sul – esta última inaugurada em 2018 –, além do escritório em São Paulo. O mix da marca, composto por camisas, calças, bermudas, camisetas, moletons, polos, blazer, jaquetas, calçados, mochilas, óculos, carteiras, cintos, bonés e meias, é encontrado em milhares de pontos de venda em todo o País, com maior concentração nas regiões Sul e Sudeste – e a ideia é continuar expandindo. “Acreditamos no Brasil, na grandeza de oportunidades que este país oferece em todo o seu território e nos espaços vazios que podem ser ocupados”, afirma Ogochi.
A empresa fechou 2018 com receita de R$ 195 milhões, crescimento de 37% em relação ao ano anterior – 75% do faturamento vem da moda adulta e os restantes 25% do segmento infantojuvenil. “Foi um resultado que nos deixou animados e orgulhosos. Nossa meta no início do ano era crescer 20%, e ainda houve uma série de percalços e surpresas, como as crises políticas, a greve dos caminhoneiros, a Copa do Mundo e as eleições”, diz o fundador e CEO.
O ritmo de crescimento vem sendo mantido regularmente, a ponto de a Ogochi ter sido incluída nas últimas oito versões da lista das empresas que mais crescem no Brasil, elaborada pela consultoria Deloitte. Em 2011, ano da primeira participação no ranking, a receita era de R$ 37 milhões, com 319 funcionários. Desde então, a equipe triplicou e o faturamento cresceu mais de cinco vezes. Como os números evidenciam, há uma grande capacidade empreendedora por trás da discrição e do tom de voz suave do líder, que precisou superar muitos desafios ao longo dessas duas décadas. “O que eu acho mais importante ao olhar para trás é perceber que os princípios que imaginei lá no começo foram mantidos: gestão correta e pautada pelo respeito aos valores humanos”, ele afirma, para em seguida ressaltar que a característica que considera fundamental para quem está começando é a humildade. “É preciso reconhecer que não se tem conhecimento e experiência suficientes. Eu buscava informações com fornecedores, clientes e consultores. Estava sempre aberto a aprender, ao mesmo tempo que precisava lidar com fatores como a inflação altíssima no País, que dificultava muito qualquer planejamento”, lembra.
Os potenciais efeitos negativos de estar distante dos grandes centros foram neutralizados aos poucos, sobretudo pela vontade de continuar sempre aprendendo e buscando informações – nesse ponto, o desenvolvimento da internet ajudou muito. Hoje, Ogochi vê a circunstância de ter unidades fabris distantes dos grandes centros como totalmente positiva. “Isso nos ajuda a cumprir o nosso propósito de contribuir para o desenvolvimento das cidades e das comunidades onde estamos inseridos. O pensamento sempre foi global, olhando os acontecimentos do mundo todo, mas com ações de efeito pragmático local e no mercado nacional”, resume.
Ogochi fez um MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas, que o ajudou a ter uma visão sistêmica do gerenciamento do negócio, e um curso na Fundação Dom Cabral que reforçou suas habilidades de planejamento estratégico. Além disso, várias outras consultorias têm sido contratadas para impulsionar projetos ou áreas específicas da empresa. “O aprendizado permanente é uma regra aqui. Temos um forte programa de capacitação interna”, destaca o CEO, que divide as horas fora da empresa entre o autoaprendizado e o convívio com a família – ele é casado e tem três filhos.
Poder feminino
A empresa desenvolve duas coleções por ano, com mais de 3 mil itens em cada coleção. Esse trabalho de criação, baseado em pesquisas de tendências e de mercado, concentra-se no escritório de São Paulo, que reúne a equipe de estilistas e designers. São quatro linhas – Essencial, Casual, Concept e Cult. No planejamento de longo prazo, revela o fundador, há o projeto de ampliar os segmentos de atuação para além da moda masculina, além de diversificar marcas e canais. Tudo isso sem abrir mão de princípios considerados fundamentais, como a sustentabilidade.
“Temos feito investimentos constantes para gerar mais eficiência e reduzir ao máximo os impactos ambientais”, descreve Ogochi. Exemplos são as cisternas para captação de água de chuva, a destinação de 100% dos resíduos sólidos à reciclagem e a instalação de usinas fotovoltaicas em todas as unidades, o que assegura que a produção interna é integralmente realizada com utilização de energia renovável.
Também são característica marcante da empresa as iniciativas de valorização da força de trabalho, como o Ogochi Inova, banco de ideias que incentiva a cultura de inovação e criatividade e a participação nos resultados, que no ano passado distribuiu a média de 2,9 salários extras para cada funcionário. A preocupação com a equidade também está na pauta: as mulheres representam 65% do quadro e estão em 59% dos cargos de liderança.
Por Maurício Oliveira